quinta-feira, 9 de junho de 2011

Religiões de Matriz Africana X

Sobre o fenômeno do transe ritual ou da possessão recai parte da explicação da intolerância  e do preconceito, pois tem sido estudado a partir de pontos de vistas que não consideram a sua dimensão propriamente religiosa. Conforme Márcio Goldman, no Brasil o fenômeno da possessão ou transe tem sido estudado através de dois modelos: um modelo de análise construído a partir do fator biológico, patológico de caráter histérico e neurótico; e o outro modelo fundando na determinação social, como mecanismo de adaptação, “instrumento de protesto social” e como “meio de reforço da ordem existente”.[1]  Apesar de não negar que a possessão tenha aspectos biopsicológicos e sociológicos, Goldman afirma que esses dois modelos (biologizante e sociologizante)  incidem no reducionismo, que é,  um erro metodológico e epistemilógico[2].   Trabalhando com a hipótese de que a possessão é uma realidade cujo completo entendimento depende da articulação entre o transe, o culto e a sociedade, Goldman sustenta que a “possessão é um fenômeno complexo, situado no cruzamento de um duplo eixo, um de origem nitidamente sociológica, o outro ligado a níveis mais individuais. [3]” Esse duplo eixo de análise da possessão é abordado em Goldman, através de uma teoria da construção da pessoa e de uma teoria ritual.
            O que nos interessa, aqui, mais especificamente, é uma compreensão de como o fenômeno da possessão ou transe está relacionado com as religiões de matriz africana no Brasil.  A resposta do Márcio Goldman remonta aos aspectos pessoais e rituais. Sendo assim, ao conceber o fenômeno da possessão mediúnica como um dos fundamentos da religião de matriz africana, posso estabelecer um vínculo direto com os rituais de iniciação e de passagem que ocorrem no interior das comunidades religiosas, que também são tomados como fundamentos da religião.  
            A partir do estudo da possessão realizado por Márcio Goldman, posso sustentar que por meio de rituais a pessoa fiel às religiões de matriz africana é possuída por uma qualidade específica de um orixá, tida como uma “entidade geral”, que pode ser um inquice, vodum ou ancestral africano. Isso porque, há nas religiões de matriz africana no Brasil, o orixá Xangô, o inquice  Nzaze-Loango, e o vodum Badé, que é, cada um, na sua


[1] GOLDMAN, 1987:93.

[2] IDEM: 93.

[3] GOLDMAN, 1987:95.

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