quinta-feira, 9 de junho de 2011

Religiões de Matriz Africana II

temáticas, a fim de possibilitar um maior desenvolvimento de aportes empíricos e teóricos sobre o tema em questão.     

  A problemática desses três pressupostos acima anunciados refere-se à existência de religiões de matriz africana no Brasil. Ou seja: existe em nosso país, pelo menos, mais de uma expressão religiosa, cuja matriz encontra-se no vasto continente africano. Trata-se de um legado dos povos que foram trazidos da África, como escravos durante mais de três séculos de vigência do regime escravista. O conteúdo dessas religiões vem sendo dinamicamente preservado, mesmo diante da perseguição dos senhores de engenho, da hostilidade e vigilância da Igreja Católica, da tentativa de seu embranquecimento por parte dos espíritas kardecistas e, mais recentemente, da intolerância dos neopentecostais[1]. Ainda assim, os terreiros de candomblés das nações Keto, Jeje, Angola e Efã, o Omolocô, o Terecô e algumas vertentes da Umbanda, em níveis diferenciados, constituem uma base significativa das religiões de matriz africana no Brasil.
Em cada um desses segmentos religiosos, existem códigos sócio-culturais que reinstuara linguagens e símbolos da religiosidade africana. Há também trocas comunitárias que partilham saberes, experiências de vida e axé (força vital), nos processos de iniciação, na sacralização de seres dos reinos vegetais, minerais e animais, nas festas e nos rituais fúnebres. Tais experiências constituem-se em formas diferenciadas de estabelecer e compreender a relação entre cultura e natureza. Sendo essa última entendida como algo superior ao mundo criado pelos seres humanos.   Em torno das concepções de vida e de cultura das religiões de matriz africana vêm circulando intelectuais e pesquisadores interessados em outras formas de sociabilidade humana.
Embora a forma de sociabilidade das religiões de matriz africana tenha um vasto repertório de códigos sócio-culturais e educativos da população afrodescendente, no Brasil, ainda são poucos os pesquisadores do campo da Educação que realizam investigações sobre a referida temática[2].



[1] Os neopentecostais são grupos de pessoas  pertencentes a diferentes denominações religiosas cristãs que vivem um  tipo de espiritualidade relacionada com o   fervor de Pentecostes. A Igrejas Deus é amor e Universal do Reino de Deus estão entre os grupos de neopentecostais. É muito comum a existência de transe espiritual entre seus adeptos, que por sua vez é interpretado como manifestação do Espírito Santo.  Eles combatem as religiões de matriz africana de forma declarada.
 
[2] Sobre essa temática, posso indicar duas pesquisas significativas realizadas em nível de Mestrado, mas não foram produzidas em programas de Pós-Graduação em Educação. Trata-se das pesquisas de SANTOS, M. C., 1998, sobre “A dimensão pedagógica do terreiro nagô”, no Mestrado de Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia; e também a pesquisa de PÓVOAS, R. do Carmo, 1989, sobre “A linguagem do Candomblé”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A maioria das pesquisas produzidas sobre essa temática advém dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia e Ciências Sociais. 

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