quinta-feira, 9 de junho de 2011

Religiões de Matriz Africana VII

Esse mesmo tipo de preconceito já não é tão velado quando se trata de alunos/as do ensino fundamental e médio. Isso foi observado em pesquisa realizada junto aos adolescentes da Comunidade dos Arturos, em Contagem-MG[1]. Naquele contexto, em que foi investigada a transmissão dos conteúdos do Congado, uma manifestação afro-católica, organizada em torno da devoção a Nossa Senhora do Rosário, os adolescentes que participavam dessa expressão eram taxados na escola de “macumbeiros”. Essa alcunha pejorativa estava desestimulando a participação em dança pública dos grupos de Congo e Moçambique, mesmo nos finais de semana. Eles/as não queriam ser chamados de “macumbeiros” nas discussões que ocorriam no pátio escolar na segunda-feira. Também não aceitavam que o Congado fosse, em hipótese alguma, um tipo de “macumba”. 
No que se pode chamar de imaginário coletivo da sociedade brasileira, “macumba” é igual magia negra, feitiçaria, trabalhos de encruzilhadas, etc. Nos programas de televisão das igrejas neopentecostais os pastores não cansam de veicular esse tipo de mensagem.  Aqui vale ressaltar que até a realização do Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja Católica também tinha orientações explícitas contra ao que chamava de baixo espiritismo[2]. Havia, inclusive, uma ameaça de ex-comunhão para quem participasse da “macumba”, considerada, na década de cinqüenta, pelo Cardeal Motta, “um dos maiores atentados a fé, contra a moral, contra nossos foros de educação, contra a higiene e contra a segurança”[3]. Uma verdadeira cruzada foi realizada para combater a expansão da Umbanda entre o segmento das classes médias.  A Igreja Católica só mudou de posição em relação à “macumba” depois das deliberações do Concílio Vaticano II, em específico, com o Documento Ad Gentes, que tratou da questão missionária. 
Sem precisar remontar às mazelas da escravidão, encontramos na recente ação pastoral e evangelizadora de igrejas cristãs uma base de sustentação da intolerância religiosa e do preconceito contra as religiões de matriz africana no Brasil. Embora a Igreja Católica tenha produzido documentos sinalizando uma mudança de atitude, não se pode esperar uma transformação automática, em razão daquilo que na historiografia passou a se


[1] SANTOS. E.P., 1997.

[2] ORTIZ, 1978.

[3] Apud. ORTIZ, 1978: 182.

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