sábado, 4 de junho de 2011

A Mulher segundo Rita Lee

ARTIGO ESCRITO POR RITA LEE


Que poder é esse que a família e os  homens têm sobre o corpo das mulheres ?

Ontem, para mutilar, amordaçar,  silenciar.

Hoje, para manipular, moldar,  escravizar aos estereótipos.

Todos vimos, na televisão, modelos  torturados por seguidas cirurgias  plásticas.

Transformaram seus seios em alegorias  para entrar na moda da peitaria  robusta das norte americanas.

Entupiram as nádegas de silicone para  se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo bom sucesso nas passarelas  do samba.

Substituíram os narizes, desviaram  costas, mudaram o traçado do dorso para  se adaptarem à moda do momento e  ficarem irresistíveis diante dos homens.

E, com isso, Barbies de fancaria,  provocaram em muitas outras mulheres (as  baixinhas, as gordas, as de óculos) um  sentimento de perda de auto-estima..

Isso exatamente no momento em que a  maioria de estudantes universitários
(56%) é composta de moças.

Em que mulheres se afirmam na  magistratura, na pesquisa científica, na  política, no jornalismo.

E no momento em que as pioneiras do  feminismo passam a defender a teoria
de  que é preciso feminilizar o mundo e  torná-lo mais distante da barbárie
mercantilista e mais próximo do  humanismo.

Por mim, acho que só as mulheres podem  desarmar a sociedade. Até porque
elas  são desarmadas pela própria natureza.  Nascem sem pênis, sem o poder fálico  da penetração e do estupro, tão bem  representado por pistolas, revólveres,
flechas, espadas e punhais.

Ninguém diz, de uma mulher, que ela é  de espadas.

Ninguém lhe dá, na primeira infância,  um fuzil de plástico, como fazem os meninos, para fortalecer sua  virilidade e violência.

As mulheres detestam o sangue, até  mesmo porque têm que derramá-lo na  menstruação ou no parto.

Odeiam as guerras, os exércitos  regulares ou as gangues urbanas, porque
lhes  tiram os filhos de sua convivência e  os colocam na marginalidade, na  insegurança e na violência.

É preciso voltar os olhos para a  população feminina como a grande  articuladora da paz.

E, para começar, queremos pregar o  respeito ao corpo da mulher. Respeito
às  suas pernas que têm varizes porque  carregam latas d'água e trouxas de
roupa.

Respeito aos seus seios que perderam a  firmeza porque amamentaram seus
filhos ao longo dos anos.

Respeito ao seu dorso que engrossou,  porque elas carregam o país nas
costas.

São as mulheres que irão impor um  adeus às armas, quando forem ouvidas e
valorizadas e puderem fazer prevalecer  a ternura de suas mentes e a doçura
de seus corações.

Nem toda feiticeira é corcunda.

Nem toda brasileira é só bunda .


                                Rita Lee - Compositora e Cantora

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