quinta-feira, 9 de junho de 2011

Religiões de Matriz Africana VI

São Paulo, há um diálogo entre a Secretaria Estadual de Educação e representantes das religiões de matriz africana[1], com o objetivo de discutir conteúdos e procedimentos relativos a essa religiosidade. No Estado do Pará, a constituição estabelece a possibilidade da disciplina ensino religioso versar sobre as religiões afro-brasileiras[2].  Em verdade, na formulação de políticas educacionais, o que se percebe é o Estado tratando a questão do Ensino Religioso como se não existissem as religiões de matriz africana e como se os seus representantes fossem invisíveis. Com efeito, a presença de um sacerdote do Candomblé Jeje[3] no Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, vinculado à Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, sinaliza uma forma diferente do Estado Brasileiro tratar as religiões de matriz africana.   
A situação de invisibilidade das religiões de matriz africana, bem como de seus representantes nas políticas educacionais tende a mudar em contextos acadêmicos, onde se refletem sobre as minorias e a exclusão social. Porém, mesmos nesses ambientes, o que se verifica não é bem uma postura respeitosa e de tolerância religiosa.    
Quem transita entre os ambientes acadêmicos e o mundo das religiões afro-brasileiras, seja como pesquisador, membro ou sacerdote, costuma, muitas vezes, ser vítima de atitudes intolerantes, jocosas e preconceituosas. Para camuflar o preconceito, o início da conversa entre membros da academia e pessoas vinculadas às religiões de matriz africana tem o tom de uma simples brincadeira, mas a indagação é jocosa. Com enunciados do tipo: “Quando é mesmo que você termina sua pesquisa sobre macumba?” “Quando é que você vai me levar pra conhecer uma macumba?” “Cuidado com ele, pois ele mexe com macumba!” Ou ainda “Acho que estou precisando tomar uns passes em um terreiro!” Com esse tipo de enunciado, o que se vê no meio acadêmico é um preconceito velado diante das pessoas que, de uma maneira ou de outra estão vinculadas às religiões de matriz africana no Brasil.


[1] Em São Paulo, a ialorixá (sacerdotisa) Sandra Epega  tem participado em várias reuniões que abordam a temática do Ensino Religioso junto aos organismos de formulação de políticas educacionais.

[2] Cf. A Constituição Estadual do Pará, Artigo 277, inciso VI,  parágrafo 1o   - “ O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas, podendo versar sobre quaisquer religiões, inclusive afro-brasileiras, estrangeiras ou indígenas.” Apud CEDENPA, 1997:102.
 
[3] Trata-se do sacerdote Francelino Shapanan, com Terreiro aberto em São Paulo, uma  pessoa influente e participativa no debate público sobre as religiões de matriz africana no Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário