domingo, 16 de outubro de 2011

Ecologicamente correto, papel que vira planta ganha mercado


Material contém sementes que, se enterradas e regadas, germinam.
Ideia é plantar o papel, que, muitas vezes picado, iria para o lixo.


Carolina IskandarianDo G1 SP
Papel semente 2Convite feito em papel semente 'germina'
(Foto: Divulgação/ Papel semente )
Quem tem o costume de picar papel e jogar no lixo deve agora tomar cuidado. Ele pode germinar e dar pequenos pés de cravo, camomila, manjericão e até rúcula. Na onda do ecologicamente correto, o papel semente está fincando suas raízes no mercado. O material ganha forma em envelopes, convites, cartões de visita e outros brindes. A novidade é que ele contém grãos. Enterrando e regando os pedacinhos do papel picado, as plantas crescem.
“A ideia é de ser um papel que, em contato com o solo, se decomponha mais facilmente no meio ambiente e possa germinar”, conta Valéria Bianchini, coordenadora do Projeto Tear. A instituição atua em parceria com a Prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo, oferecendo oficinas a pessoas com transtornos mentais. Um dos trabalhos é produzir convites e cartões de visita que contêm sementes.
“Trabalhamos com sementes de grama, boca-de-leão [espécie de flor] e salsa”, explica Valéria, que usa muita matéria-prima de uma feira livre da cidade. Com fibras de alface e beterraba, por exemplo, é possível fazer belos papéis do tipo. Depois, é só acrescentar os grãos à mistura e deixar o material secar. No caso da grama, as primeiras folhinhas podem despontar em dez dias. "O papel semente trabalha com a questão do consumo responsável. E, por ser reciclado, ele se decompõe mais rápido", conta Rosimeire de Almeida, monitora do Projeto Tear.
Convite de casamento
Papel semente 1Plantinhas brotam em papel que viraria lixo
(Foto: Divulgação/ Projeto Tear)
Quem descobriu a vantagem de apostar no material garante que ele é recente no mercado brasileiro. Não tem mais de dois anos. A bióloga Ana Paula Brandão Pinto, de 31 anos, viu a novidade no jornal e resolveu aderir. Mandou fazer os 400 convites de seu casamento com papel recheado de sementes de camomila. “As pessoas recebem o convite e jogam no lixo. Com o papel semente, pelo menos, tem a chance de ele não virar resíduo”, diz ela, que casa neste mês.
A empresa Papel Semente recebeu a encomenda de Ana Paula. A companhia tem linhas para todos os gostos. A de chá oferece os brindes em papel com sementes de erva doce e camomila. A linha flores traz os grãos do cravinho da Índia, da cósmea ou da boca-de-leão. Quem gosta de hortaliças pode optar pela linha gourmet e, em vez de jogar o papel fora, enterrá-lo e regá-lo. Dali, vão brotar pés de rúcula, agrião, salsinha e manjericão, criando a possibilidade de uma hortinha em casa.
Andréa Carvalho, uma das sócias da empresa, diz que nem toda semente pode ser misturada ao papel. Só as mais resistentes e as pequenas – as grandes deixam a folha muito granulada. “O cravinho é o nosso carro-chefe. Fizemos testes no Sul e no Nordeste e todos os grãos tiveram uma germinação excelente. Mas, dependendo do lugar, a semente não vinga, como a do tomate”.
Corrente verde
O Grupo Eco é outro que adotou a ideia há um ano e meio. Faz marcadores de livro com o papel artesanal e 100% biodegradável. Para Ana Paula Barreiros, assistente comercial, a resposta dos clientes foi muito positiva ao produto. “Uma cliente ligou um dia dizendo que tinha comido o papel. Na verdade, tinha temperado a salada com a rúcula que plantou de um papel semente.”
A empresária Andréa Carvalho torce para que esse “encantamento” em ver brotar vida de um simples papel se torne uma grande corrente em favor do meio ambiente. “Acredito em pequenas ações e meu cliente, comprando esse produto, faz a parte dele”, afirma ela.

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